segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Partidos Políticos e Gênero

Mediante à afirmação de Sacchet “Um dos obstáculos centrais à entrada de mulheres na política é o nosso sistema eleitoral” podemos acrescentar fazendo uso reflexivo do livro Psicologia do Gênero. Psicobiografia, Sociocultura e Transformações de uma enormidade de outros fatores que são conseguências e formadores dessa realidade que se constata por meio desta afirmação supra citada. Diante da perspectiva crítica que a autora Maria Helena Fávero nos possibilita com sua obra, torna-se mister enxergarmos esta afirmação mais como uma conseguência ou um retrato expressivo de uma realidade simbólica da sociocultura, do que uma causalidade linear. São vários fatores que contribuem para o não ingresso da mulher na política, não apenas o fator normativo referente às normas estruturantes dos partidos políticos ou do sistema eleitoral como nos elenca Araújo(2005) em seu artigo Partidos Políticos e Gênero: Mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política, mas a um conjunto de valores compartilhados por nossa sociedade em determinado tempo e espaço cultural, sendo chamado de semiosfera por Lotman, segundo nos coloca Fávero(2010).  Nossa sociocultura, compartilha de valores que tendem a naturalizar acepções acerca da mulher, sua função e definição a partir da opinião masculina. A mulher como nos coloca Fávero(2010) em nossa cultura está subjugado pelo patriarcado contemporâneo cuja sua reafirmação se dá pelas práticas reacionárias construídas por uma microfísica do poder cuja eficácia se manifesta no controle do feminino, do ser mulher. Assim como, constrói toda reflexão acerca de gênero dividida entre duas polaridades definidas, ou melhor, amparadas num corpo biológico, cabendo aos órgãos sexuais a definição do ser homem ou mulher e uma conseguente atribuição de traços a cada uma dessas categorias.
Reflexo do que está sendo argumentado é a declaração de Araújo, que diz:
“... é provável que o envolvimento das mulheres seja condicionado por sua dinâmica de vida familiar e profissional, o que dificulta sua inserção em espaços já consolidados em suas práticas e ocupados por outros autores... já que elas ver-se-iam limitadas por suas atribuições domésticas e familiares.” (ARAÚJO, Clara. 2005. p.209)
Destarte, é necessário uma reflexão muito mais abrangente e crítica das relações de poder que constituem nossa sociocultura e subjugam a mulher ao lugar de agente passivo de valores naturalizados sobre esta categoria, tais quais; o dom da maternidade, emocionalidade, afetividade, intuição dentre outros. Sendo necessário uma discussão consistente sobre as práticas que fundamentam estas aferições.
Segundo à afirmação de Sacchet “Mas que diferença de fato faria a composição dos ministérios com 30% de mulheres?” pode-se começar argumentando que só ter-se-á dados acerca dessa proposição quando tal realidade for possível. Diante de tal afirmativa podemos apenas elencar algumas constatações de cunho revolucionário no sentido, de que vai de encontro às práticas já manifestadas e reafirmados por nossa cultura. Destarte o argumento da igualdade entre os sexos, ou melhor, entre os sujeitos humanos, é o melhor para começar esta discussão. Sendo nossa sociocultura pluralista no sentido latu senso – etnias, valores, grupos sociais, grupos ideológicos entre outros, faz-se necessário a maior representatividade possível afim de fomentar a discussão acerca dos valores da pessoa humana. Enquanto mantivermos a não inserção do gênero em nossa representação política estaremos fazendo pacto às formas ortodoxas de subjugação e reafirmação de poder constitutiva de nossa cultura ocidental. O movimento feminista é uma realidade que traz à tona a discussão da necessidade dessa participação da mulher enquanto agente ativo de nosso pacto social, cujos valores devem ser rediscutidos afim de que acompanhe as mudanças sociais.

Referência
ARAÚJO, C (2005) Partidos Políticos e gênero: mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política. Revista de Sociologia e Política, 24, pp. 193-215; e
FÁVERO, Maria Helena (2010) Psicologia do Gênero. Psicobiografia, Sociocultura e Transformações. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná, 435p.

domingo, 5 de dezembro de 2010

LATTAL

Resenha referente ao artigo de LATTAL, Kennon A. O lado Humano do comportamento Animal. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 2006, Vol. 2, n. 1, 1-19.

 Lattal (2006) propõe em seu artigo O lado humano do comportamento animal examinar de maneira organizada as origens que possibilitaram a comparação do comportamento humano com o de outros animais, resgatando o fio de Ariadne dessa metodologia científica, na qual proporciona uma leitura humanizada, por meio de estudos com animais.
O autor supracitado argumenta que mesmo em face da pequena quantidade de pesquisa utilizando-se animais não humanos “cerca de 7% das páginas de periódicos publicados pela Associação Americana de Psicologia” (p. 2) o impacto deste material tem sido relevante para a compressão do comportamento humano. No entanto Lattal (2006) nos alerta sobre os críticos que salientam o perigo de tal generalização. Em resposta, o autor aconselha um melhor entendimento acerca dos processos ou métodos por meio dos quais há esta produção científica, como uma tentativa de dirimir estas críticas.
Quanto ao processo de comparação entre os dados o autor formula três questionamentos, sendo estes: Como a prática de relacionar o comportamento animal e humano se deu origem e de que maneira ela ainda se perpetua? Como foram estabelecidas as similaridades entre os comportamentos humanos e de animais não humanos? E como estas são avaliadas? Pondo-se a considerar como a psicologia e, posteriormente, a análise do comportamento, desenvolveram esta prática.
Lattal (2006) nos sinaliza que esta prática se iniciou com a fisiologia do século XIX, assim como, as relações entre a medicina, aquela, o reducionismo e a psicologia experimental, fomentando a experimentação em animais. De maneira que, o interesse teórico na inteligência e na mente dos animais não humanos era instigado, usando como fundamento a teoria evolucionária de Darwin, assim como o naturalismo, desaguando em dois caminhos gerais distintos: a etologia e a psicologia comparativa. Aquela, com sua ênfase no estudo do comportamento animal não humano em ambientes fechados e esta, com o estudo comparativo da mente e sua evolução sobre o comportamento animal não humano. O autor sinaliza, posteriormente às duas anteriores, o surgimento de uma nova ciência do comportamento humano e do animal não humano, baseada na aprendizagem, culminando nas grandes teorias da aprendizagem da década de 30, que articulavam o discurso de que “as aprendizagens humana e animal tinham a mesma natureza básica”(p. 3).
Lattal (2006) nos argumenta que os autores contemporâneos das relações entre comportamento humano e animal não humano justificam o uso de tais comparações em face dos princípios comportamentais que são comuns entre muitas espécies, como também, é mais fácil de controlar as condições, isto é, as variáveis em pesquisas com animais não humanos, os processos envolvidos são de alguma maneira mais básicos nestes e as variáveis são definidas mais facilmente. Há outras justificativas, tais como: os fatores genéticos podem ser controlados, uma amplitude maior de problemas e variáveis pode ser investigada e uma menor expectativa em relação ao observador sobre o sujeito, em conseqüência da ausência de linguagem verbal nos animais não humanos. Sendo esta última, particularmente, controversa, pois dá fundamento às objeções dos psicólogos que argumentam ser este fator a principal comprovação da impossibilidade de se fazer um paralelo entre os dados.
O autor discute o processo de identificação de características humanas em animais, antropomorfismo, como uma tentativa de relacionar os comportamentos humanos ao dos animais não humanos, processo que segundo Lattal (2006)“Skinner (1957) rotulou de extensão genérica” (p.6). Lattal (2006), alerta-nos sobre os cuidados necessários no uso da extensão genérica, explanando que algumas características são impossíveis de serem atribuídas a um animal não humano em face da complexidade de determinados conceitos psicológicos, por exemplo, ansiedade ou vergonha. Levantando o questionamento sobre se estes conceitos têm viabilidade também para definições de comportamentos humanos.
Há também o uso de metáforas para fazer alusão a determinados modos de ser, ou melhor, para explicar comportamentos, sendo este uso segundo Lattal (2006) combatido por Skinner quando argumenta que a extensão metafórica é um dos elementos que diferenciam a literatura do fazer ciência, sendo o uso de metáforas um possível causador de ambigüidades e significados adicionais na literatura científica.
Em contraste a estes dois processos recém citados, antropomorfismo e metáfora, as relações estabelecidas entre os dados referentes a animais não humanos e humanos, obedecem observações mais sistemáticas e formais, possuindo como objetivo a previsão ou mesmo o controle do comportamento. O autor observa que as relações sistemáticas podem ser estabelecidas por meio de processos de raciocínio tanto extrapolativo quanto análogo, sendo uma questão importante para se pensar, pois pode implicar em um método distinto de comparação entre os comportamentos animal não humano e humano. Questionamento, posteriormente sanado por Lattal (2006) “Assim, modelo, analogia e simulação são usados, mais ou menos, de maneira indiscriminada, não havendo razão para afirmar que um é diferente ou mais preciso do que os outros.”(p. 10).
O artigo ressalta que quando as extensões genéricas são sistemáticas, elas são denominadas de extrapolação, generalização ou extensão, que ao contrário da extensão metafórica, aquela começa, geralmente, com observações de um processo comportamental em animais, sendo posteriormente, estendidas ao comportamento humano. Segundo Lattal (2006):
O processo envolve o estabelecimento de um princípio comportamental, a análise dos componentes de um comportamento humano ocorrendo naturalmente, e finalmente, a utilização do princípio comportamental derivado no laboratório para explicar os componentes. Sendo assim, um princípio comportamental é extrapolado, estendido ou generalizado da análise do comportamento animal para aquela de humanos. (p.10-11).
O autor, posteriormente resgata o processo filogenético da espécie humana em paralelo com os conceitos da biologia evolutiva, que salienta que espécies similares compartilham características, alegando que “Padrões comportamentais que não parecem necessariamente ser os mesmos, mas que são controlados por processos comportamentais idênticos, são considerados homólogos” (P. 11). Sendo estes últimos classificados, segundo o autor, como instâncias de extensão genérica.
Para avaliar as relações propostas entre os estudiosos do comportamento animal não humano e humano, Lattal (2006) expõe quatro dimensões que devem ser consideradas, tais quais: estrutura versus função, a natureza sistemática da comparação, dimensões quantitativas e dimensões qualitativas. A primeira dimensão faz o apelo a qual foco será proposta as similaridades. A segunda, corresponde ao modelo usado para a comparação, ou seja, se a sistemática adotada é sob condições controladas (laboratório) ou observações informais ou casuais. A terceira, descreve-se como o acúmulo de evidências convergentes entre as similaridades entre o comportamento humano e do animal não humano. Enquanto que a quarta, envolve considerações heurísticas e práticas, no lugar de lógicas.
O autor continua a elencar outras considerações quanto à avaliação das relações, como: a questão da aparência, na qual ele faz a ressalva de que o mau uso desta pode aumentar o impacto da comparação, particularmente quando o público que aprecia o trabalho é composto por não cientistas. Na seleção de uma espécie, esta geralmente ocorre por questões de disponibilidade e conveniência, mediante o interesse da pesquisa. Na nomeação do comportamento animal, há o alerta sobre quais rótulos associados ao comportamento animal não humano devem ser usados, em face da questão da visibilidade da pesquisa, apelo. Sabiamente, Lattal (2006) reafirma que “o impacto é particularmente convincente quando o rótulo verbal é apoiado por uma análise experimental cuidadosa e completa.” (p. 16). E quanto às funções de pesquisa com animais o autor reafirma que estas não devem e não podem ser justificadas em termos de relevância imediata e direta para compreender o comportamento humano, fazendo um alerta sobre a impossibilidade destes suplantarem os estudos sobre os seres humanos.
O autor reafirma, ao final do texto, a necessidade de generalizações no fazer ciência. Argumento que ele fundamenta, explica e alerta sobre alguns cuidados que são necessários para que se goze desta metodologia, ratificando que as conclusões obtidas por meio da pesquisa científica são valiosas para a compreensão do comportamento do animal humano, idéia esta que ele explana com muita clareza durante todo o artigo, elencando os prós e os contras, assim como os cuidados necessários ao se fazer ciência. 

JANELA DA ALMA

O filme propõe uma reflexão sobre o sentido da visão e suas implicaturas no modo de ser das pessoas. Trazendo-nos para uma pluralidade de discursos e argumentos ímpares. Tal qual a anedota contada por Saramago, na qual ele nos conta que se Romeu tivesse o sentido da visão como uma águia, jamais teria apaixonado-se por Julieta, em face da acuidade ou clareza da visão da águia tornar incomum a maneira de perceber a pele humana da maneira como nos acostumamos. Destarte sendo esta história um fomento inicial para uma reflexão que não possui fórmula única ou acordo epistemológico, mas sim que caminha para uma pluralidade de visões acerca do mesmo objeto, o olhar humano.
No documentário é muito debatido o argumento de que o olhar é uma porta de entrada a significados que formarão a percepção do mundo segundo atribuição individual de sentido, indo, destarte, de encontro aos argumentos da percepção direta de Gibson, que traz uma maneira de se pensar mais passiva. Como também somos incapazes de ver a realidade tal qual ela é. Sendo inviável pensarmos, segundo o filme, o sensório como uma janela que espelhará uma percepção exata e fidedigna do mundo.
O filme discute também a capacidade de se ver com os outros órgãos além dos olhos, mas com o estômago, boca, ouvido. Fazendo-nos remeter à diversidade e potencial humano de se adaptar e provocar uma reorganização das teorias médicas ortodoxas, assim como, nos insere num terreno cujas outras capacidades são possíveis, por meio da visão interior ou janela da alma interna, exemplarmente, segundo o fotógrafo cego, Bavcar. Que não necessita do sentido da visão para enxergar a expressão da arte.
O filme traz outra discussão que é a do foco simbólico, é o estar e ver-se fora de foco num mundo que a visão precisa ser o sentido de excelência, em face da velocidade de informações que devem ser absorvidas e processadas, ou melhor, percebidas. E em seqüência traz um depoimento interessante da atriz Marieta Severo que diz ficar surda se a lente de contato cai durante uma peça e ela não puder olhar nos olhos do colega com quem está contracenando, nos remetendo à interdependência dos sentidos. Trazendo uma outra discussão acerca dos olhos da mente como todas as funções interligadas, que ao ligar-se com a criatividade, desejos, ansiedade entre outras características, faz-te capaz de olhar o que não tem expressão literal, mas anímica. É aquilo que animado ou passa a ter vida por meio do olhar que afere sentido, por isso sendo impossível nos referirmos a uma passividade da visão.
O filme traz algumas discussões acerca da vergonha, do medo e do mal estar por não compartilhar da mesma capacidade dos outros e ser discriminado de alguma forma por não olhar ou fitar em direção à pessoa com quem está falando. Assim como o olhar de tristeza e comoção dos demais diante do ‘ceguinho’. Sendo o depoimento da cineasta Rimminen o mais marcante quanto ao apelo da diversidade e os sofrimentos implicados. No entanto, o filme é uma afirmação da diversidade humano do olhar, indiferente aos limites reais e fisiológicos, sendo permitido aos cegos ‘verem’ por meio de outros processos que ultrapassam o sentido da visão. Sendo o homem um animal adaptável por excelência um grande ditador dos seus limites e nos fazendo repensar os nossos limites individuais.

RECALQUE, RESISTÊNCIA E REPRESSÃO

  Neste trabalho iremos nos basear em argumentos de dois pensadores da psicanálise, o próprio fundador e Kusnetzoff para tentarmos demonstrar as diferenças entre recalque, resistência e repressão, com a finalidade didática de tornar mais clara essas definições em suas diferenças conceituais.
 Recalque segundo nos auxilia Kusnetzoff (1982) foi o primeiro grande mecanismo investigado pelo autor da Psicanálise, dando um papel primordial a este mecanismo na elaboração das neuroses, definindo-o como um ato de despejo do nível consciente da representação ligada à pulsão.
Segundo Freud (1923) repressão é o “estado em que as idéias existiam antes de se tornarem conscientes” (p. 28). E resistência é “a força que instituiu a repressão e a mantém. (p.28). Sendo, destarte três processos que se complementam na função de manter o ideal de bela alma do ideal de Ego, havendo o impedimento de algumas idéias surgirem na consciência.
Freud (1923) obtém o conceito de inconsciente a partir da teoria da repressão, configurando-se dois inconscientes: um latente, porém capaz de tornar-se consciente, e outro que é o reprimido e não é, “em si próprio e sem mais trabalho, capaz de tornar-se consciente”. (p.28). Sendo o reprimido “o protótipo do inconsciente”. (p.28). Destarte há que se pensar este mecanismo de defesa, a força que o mantém e o produto destes como a matéria prima de trabalho do alquimista, ou seja, do clínico no fazer psicanalítico.

BIBLIOGRAFIA
FREUD, Sigmund, 1856-1939. Obras psicológicas completas, edição Standart Brasileira. O Ego e o Id e outros trabalhos. vol. XIX. 1923-1925.
KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Ed.: Nova Fronteira. Coleção: Logos. Ano: 1982 - 11ª Impressão

O COMPLEXO DE ÉDIPO

Segundo Teresinha Costa o complexo de Édipo é um dos conceitos fundamentais da psicanálise e consiste, segundo nos auxilia Katz, na junção de dois significantes importantes à época que foi formulado, “complexo” e “Édipo”. Alertando-nos que esta expressão foi elaborada, pela primeira vez, na obra de Sigmund Freud (1856-1939).(pág. 20)
Como nos auxilia Katz o termo Édipo já havia aparecido nos escritos de Freud, em sua correspondência com Wilhelm Fliess (1858-1928) onde ele narra uma experiência que aconteceu com ele e teoricamente aconteceria com todos e que comporia um escopo universal, tal qual o descreve Freud: “Achei também em mim o apaixonamento pela mãe e o ciúme por relação ao pai, e agora os considero um acontecimento geral da infância mais remota... Se for assim, entende-se o poder da atração do Oedipus Rex, a despeito de todas as objeções que a compreensão erige contra a pressuposição do destino... a lenda grega capta uma compulsão que todos reconhecem, pois cada um reconhece sua existência em si mesmo”(F-FL,carta 142, de 15/10/1897. Negrito nosso. COMPLEXO DE ÉDIPO, Chaim Katz, p. 22).
Destarte percebe-se que não foi a partir do mito Édipo que Freud formula o conceito complexo de Édipo, mas de sua própria percepção acerca dos seus afetos em relação à tríade mãe-pai-bebê, cujo ele constatou ser um evento que provocava afetos moralmente não desejosos, por isso intensos. Sendo a história grega extremamente alusiva e pertinente para ser usada como significante desta relação cujos seus efeitos toda a humanidade estaria submetida. Como nos auxilia Costa, o termo “complexo” aponta para “uma rede de relações que ocorrem na infância de todo sujeito e que é responsável pela organização de nossa subjetividade desejante”.(ÉDIPO, Teresinha Costa, p. 7).
Portanto, a gênese do Complexo de Édipo e suas conseqüências no dinamismo psíquico de cada um terá repercussão por toda a vida do sujeito, sendo estruturante quanto às suas disposições fundamentais (neurose, psicose, perversão). Costa descreve que para o menino, o complexo de Édipo, dá-se pelo amor deste em relação à mãe cujo afeto desperta as fantasias ligadas ao objeto de prazer. Posteriormente, sob o efeito conjunto da ameaça de castração pelo pai e da angústia da possível perda do falo, há a renúncia da mãe como seu objeto de prazer. Sendo o medo e a angústia o responsável pelo desenlace do complexo de Édipo no menino. Havendo um deslocamento do amor que ele tinha em relação à mãe para o pai, que logo se transforma também. Configurando-se em uma relação que deixa de querer ter para ser o pai. Como nos explica a autora “O complexo de Édipo é dissolvido na medida em que a angústia de castração põe fim tanto à ligação erótica com a mãe quanto à ligação amorosa com o pai. No final desse processo, o menino entra no período de latência” (ÉDIPO. Teresinha Costa, p. 34).
Enquanto que na menina é diferente a dinâmica do complexo de Édipo e éxigadido dela um duplo esforço, visto que a mulher deverá abandonar a “erotização clitoridiana para que a esta suceda a erotização vaginal... Para a menina, o complexo de Édipo é uma formação secundária e as operações do complexo de castração o precedem e o preparam. Assim, além de fazer uma mudança de órgão ela precisa, ela precisa trocar o objeto materno pelo paterno... Ele chega à conclusão de que, se a menina renuncia à satisfação ativa dirigida inicialmente à mãe, não é somente porque deseja voltar-se para o pai, mas, sobretudo, para afastar-se da mãe, para desligar-se dela... Nem sempre essa passagem se realiza, e, caso a menina continue endereçando os movimentos pulsionais ativos e passivos à mãe, isso poderá trazer dificuldades na assunção de sua feminilidade”. Segundo a autora, a menina na fase fálica, dá-se conta que está castrada, ou seja, na tem o falo e daí se aproxima do pai, com a finalidade de obter o pênis que a mãe lhe negou. É nesse momento que se dá início ao complexo de Édipo na menina. “...Em seguida, essa busca é substituída pelo desejo de ter um filho, que seria o equivalente simbólico do pênis; posteriormente, a decepção frente ao pai, que se nega a atender a essa gratificação, é o que a conduz ao abandono progressivo do complexo de Édipo.”  (ÉDIPO. Teresinha Costa, p.35-37).
Podemos então dizer que o menino sai do Édipo em conseqüência do medo da castração, ou seja, o medo de perder seu falo pelo pai ou pela função castradora, posteriormente identificando-se com o pai para atrair alguém tal como a mãe. “Tal como” significa dizer que este objeto de desejo ele nunca poderá ter, daí a renúncia do prazer para o acesso à cultura. Sendo importantíssima essa dinâmica para a construção do processo de humanizar-se. Enquanto que a menina entra no Édipo pelo processo de castração, ou seja, quando ela se percebe desfalicizada, tal qual a mãe, abandonando esta como objeto de prazer e deslocando-se para o pai, o possuidor do falo substituto é que ela pleiteia sua entrada na civilização, tendo sua saída do Édipo marcada pela produção do seu próprio falo, ou seja, sua cria. O complexo de Édipo é um conjunto de relações cujos todos os humanos estão facultados a passar, sendo ele o responsável pela construção da estrutura futura deste sujeito dentro das categorias histeria, neurose obsessiva e psicose.


Livros consultados:
COSTA, Teresinha. ÉDIPO. Psicanálise passo -a- passo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2010;
KATZ, Chaim. COMPLEXO DE ÉDIPO. Freud e a multiplicidade edípica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.


MECANISMOS DE DEFESA

Mecanismos de defesa, como nos diz Kusnetzoff (1982) é um grupo de barreiras organizadas contra as estimulações pulsionais e externas que afetam a psique, fazendo com que o aparelho permaneça no princípio da realidade e expulse da consciência aquilo que venha a ferir o seu narcisismo. O autor nos lembra que esta função é exercida, em grande parte pelo EGO, a parte inconsciente deste, pois a maior parte das defesas opera inconscientemente, remetendo-nos a idéia de um aparelho psíquico cindido. Sendo o conflito psíquico a base fundamental do exercício defensivo.
De acordo com o autor, ele elenca alguns mecanismos de defesa, tais quais: Recalque, Projeção, Deslocamento, Regressão parcial, Introjeção, Isolamento, Inibição, Formação Reativa, Sublimação, Negação e Identificação Projetiva. Cujos significados individuais explanaremos em tópicos, de maneira que, o trabalho torne-se mais didático.
Recalque: Foi o primeiro grande mecanismo investigado pelo autor da Psicanálise, dando um papel primordial a este mecanismo na elaboração das neuroses, definindo-o como um ato de despejo do nível consciente da representação ligada à pulsão, sendo um verdadeiro esforço na tentativa de manter no inconsciente aquela, ocasionando os “esquecimentos” dos neuróticos.
Projeção: É a atribuição a objetos externos características que o sujeito desconhece em si mesmo. Sendo estes inanimados ou animados. Sendo este mecanismo de defesa muito comum nos casos de paranóia, como nos elucida Freud (1895. p. 286) “Portanto o propósito da paranóia é rechaçar uma idéia que é incompatível com o Ego, projetando seu conteúdo no mundo externo”. Em outra obra Freud (1911. p. 89) retoma o tema da projeção dizendo “Uma percepção interna é suprimida e, ao invés, seu conteúdo, após sofrer certo tipo de deformação, ingressa na consciência sob a forma de percepção externa”.
Deslocamento: Consiste em ato de transladar características ou atributos de um determinado objeto, comumente, diz-se transferidas a outros objetos que estão articulados ao primeiro por um ou mais elementos comuns (por analogia ou contigüidade). Sendo as fobias o campo de estudo mais proeminente do mecanismo de deslocamento.
Regressão Parcial: É a reativação de antigas condutas que, evolutivamente, têm sido superadas pelo sujeito. É ativado toda vez que o sujeito apresenta um conflito que não consegue resolver, trazendo à tona o modo como as organizações primitivas do sujeito se determinaram. Como nos salienta Kusnetzoff (1982. p. 215) “Mas o que nos interessa é a regressão a diversos pontos do desenvolvimento, pontos que chamamos de fixação, em redor do qual se organizam determinadas estruturas psicopatológicas”.
Introjeção: Mecanismo originalmente descrito por Ferencz, como nos argumenta Kusnetzoff (1982) que consiste na assimilação de características, atributos ou qualidades de um objeto exterior, por parte do sujeito. No processo de luto há uma forte introjeção pelo sujeito de determinadas características do objeto perdido, principalmente aos que conduzem à melancolia.
Isolamento: Consiste em evitar a contaminação por meio do contato com o objeto perigoso. Comprometendo a possibilidade de tocar a representação mental ligada ao afeto desagradável que seria desencadeado ao mero toque do objeto.
Inibição: É um déficit parcial ou total de determinada função egóica.
Formação Reativa: Leva o sujeito a efetuar ou ter uma conduta totalmente oposta àquilo inconsciente que se quer rejeitar.
Sublimação: O processo de sublimação implica num abandono do objetivo original da pulsão. Mas esta escolhendo uma nova finalidade, havendo uma conciliação entre as exigências do Superego com as do Inconsciente, sob o comando do princípio da realidade. Destarte haver certo desejo por este tipo de mecanismo, pois seria ele, originariamente, responsável pela atividade artística e a investigação intelectual, como nos salienta Kusnetzoff (1982).
Negação: Também conhecida como Denegação, consistindo no uso da língua falada da partícula ‘não’. Sendo admitido um determinado conteúdo recalcado na consciência, mas com a condição de negá-lo. Rejeição daquilo que, simultaneamente, admite-se.
Identificação Projetiva: Mecanismo de defesa descrito por Melanie Klein, no qual o sujeito se introduz, parcial ou totalmente, no interior do objeto, com a finalidade, dentre outras de, possuí-lo, feri-lo e controlá-lo. Sendo esse mecanismo de defesa muito comum nas organizações psicóticas.
BIBLIOGRAFIA
Freud, Sigmund. Rascunho H – Paranóia. Standart Brasileira, vol. I, 1895;
_____________. Notas Psicanalíticas sobre um relatoautobiográfico de um caso de Paranóia. Standart Brasileira, vol. XII, 1911;
KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Ed.: Nova Fronteira. Coleção: Logos. Ano: 1982 - 11ª Impressão;

SURDEZ

Diante do tema abordado – Deficiência: Uma cultura surda. Faz-se mister uma breve explanação histórica a respeito da virada cultural dada pela normativa dos direitos humanos elencados pela ONU- Organização das Nações Unidas- em 1948, movida pelo zeitgaist, postulando direitos e deveres sociais, resgatando o ideal de Estado social de direito, exposto pela revolução francesa -Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade - artigo 1 da declaração dos direitos humanos.  Assim nos permitimos citar alguns artigos com o intuito de contextualizar a luta pela igualdade de direitos.
É assegurado entre outros direitos o de acesso a instrução, como nos orienta o artigo 26 da carta:
I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais (Grifo nosso).

Este artigo supracitado nos permite refletir sobre as condições de acesso à educação das pessoas surdas, como também, do contexto social no qual este ocorre. A mesma Organização das Nações Unidas proclamou em 09 de dezembro de 1975 a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes em seu artigo 3:
As pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar uma vida decente, tão normal e plena quanto possível"; e em seu artigo 8: "As pessoas deficientes têm o direito de ter suas necessidades especiais levadas em consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social.
Ainda a ONU elaborou em 03 de dezembro de 1982 o programa de ação mundial para pessoas com deficiência que diz entre outras coisas a seguinte:
A igualdade de oportunidades é o processo mediante o qual o sistema geral da sociedade - o meio físico e cultural, a habitação, o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades de educação e de trabalho, a vida cultural e social, inclusive as instalações esportivas e de lazer - torna-se acessível a todos.
A constituição federativa do Brasil de 1988 compactua com todos esses documentos e traz em seu corpo como um dos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, sendo-nos assegurado o exercício desta. Destarte tais assuntos são contemporâneos na medida em que o habitus (BOURDIEU, 1982, p. 7) por meio da cultura acumulada é intensificado como discussão. Comungando com a noção de Michel Foucault em seu livro A ordem do discurso, no qual ele atribui certo estruturalismo social e nos propõe a refletir dizendo que o discurso não é simplesmente aquilo que traduz quanto às lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta. Sendo-nos instigado a refletir sobre a surdez social, como uma conseqüência dos sistemas de poder que tem na massificação de verdades e discursos o método para o desenvolvimento humano. Sendo esta a grande crítica deste autor e de vários outros que propõem uma reflexão sobre a sociedade e seus sistemas de ensino, pois este é um grande balizador da cultura de um povo.
Segundo a ONG – Organização Não Governamental- Ajuda Brasil, 1,7% da população nacional possui problemas relacionados à surdez; destes, somente, um número reduzidíssimo avançam em seu processo de escolarização, integração social e ingresso no mercado de trabalho. A identidade e a cultura visual do sujeito surdo raramente são respeitadas. Denotando a ausência de uma capacitação adequada e uma aprendizagem que visa o simples acúmulo de fatos. Realidade tão temida e, por isso, alarmada por Paulo Freire.  
 É importante argumentarmos a título de reflexão filosófica a maneira como a teia social se constitui, como um fuxico sendo bordado nas mãos do povo, que por meio, de símbolos como nos esclarece Ferdinand Saussure em sua obra Curso de Lingüística Geral, o signo lingüístico é formado pelo significado, a que corresponde um conceito e, pelo significante, a que corresponde uma imagem acústica ou gráfica do conceito. Não destacando um grau de importância entre eles - estão intimamente unidos e um reclama o outro. (pág. 80). No entanto Lacan, psicanalista do século XX, reinvidica essa equação nos argumentando que o significado é mais importante, pois contém o afeto daquilo que enseja, guarda, traz à tona, o conteúdo. Sendo a linguagem fundamental à formação e constituição do ser. Assim como, um grande instrumento para a cura dos sofrimentos humanos. Diante desta perspectiva nos perguntamos de que maneira as pessoas que são privadas de um simbolismo lingüístico complexo no sentido de capacidade de comungar de maneira adequada e, marginalizados, conseqüentemente, pela cultura são prejudicadas em sua formação bio-psico-social.
Vale citar um trecho do texto da professora doutora Nídia Limeira de Sá, da Universidade Federal da Bahia, que argumenta sobre a marginalização da cultura do surdo:
É através das interpretações baseadas na cultura majoritária que, na construção social da surdez, ocorre a valorização do modelo ouvinte, principalmente no processo educativo dos surdos. Trata-se de uma imposição subjetiva (às vezes até objetiva) sobre as identidades dos surdos, sobre sua subjetividade, sobre sua auto-imagem, ou seja, poderes são exercidos para influenciar os surdos a perderem sua identidade de surdo, para que sua diferença seja assimilada, disfarçada, torne-se invisível.
Seu texto nos auxilia a refletir sobre as variáveis que permeiam essa discussão, fazendo-nos perceber que o título “cultura surda” conota outros significados para além do simples fenômeno da surdez em seu sentido biológico. Mas uma supressão da diferença pelo discurso desgastado da diversidade, como panacéia epistemológica para se refletir sobre as reais condições do ser humano surdo.
REFERÊNCIAS
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 2006.
SÁ, Nídia Limeira de. Cultura, poder e educação de surdos. São Paulo: Paulinas, 2006.