domingo, 5 de dezembro de 2010

LATTAL

Resenha referente ao artigo de LATTAL, Kennon A. O lado Humano do comportamento Animal. Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 2006, Vol. 2, n. 1, 1-19.

 Lattal (2006) propõe em seu artigo O lado humano do comportamento animal examinar de maneira organizada as origens que possibilitaram a comparação do comportamento humano com o de outros animais, resgatando o fio de Ariadne dessa metodologia científica, na qual proporciona uma leitura humanizada, por meio de estudos com animais.
O autor supracitado argumenta que mesmo em face da pequena quantidade de pesquisa utilizando-se animais não humanos “cerca de 7% das páginas de periódicos publicados pela Associação Americana de Psicologia” (p. 2) o impacto deste material tem sido relevante para a compressão do comportamento humano. No entanto Lattal (2006) nos alerta sobre os críticos que salientam o perigo de tal generalização. Em resposta, o autor aconselha um melhor entendimento acerca dos processos ou métodos por meio dos quais há esta produção científica, como uma tentativa de dirimir estas críticas.
Quanto ao processo de comparação entre os dados o autor formula três questionamentos, sendo estes: Como a prática de relacionar o comportamento animal e humano se deu origem e de que maneira ela ainda se perpetua? Como foram estabelecidas as similaridades entre os comportamentos humanos e de animais não humanos? E como estas são avaliadas? Pondo-se a considerar como a psicologia e, posteriormente, a análise do comportamento, desenvolveram esta prática.
Lattal (2006) nos sinaliza que esta prática se iniciou com a fisiologia do século XIX, assim como, as relações entre a medicina, aquela, o reducionismo e a psicologia experimental, fomentando a experimentação em animais. De maneira que, o interesse teórico na inteligência e na mente dos animais não humanos era instigado, usando como fundamento a teoria evolucionária de Darwin, assim como o naturalismo, desaguando em dois caminhos gerais distintos: a etologia e a psicologia comparativa. Aquela, com sua ênfase no estudo do comportamento animal não humano em ambientes fechados e esta, com o estudo comparativo da mente e sua evolução sobre o comportamento animal não humano. O autor sinaliza, posteriormente às duas anteriores, o surgimento de uma nova ciência do comportamento humano e do animal não humano, baseada na aprendizagem, culminando nas grandes teorias da aprendizagem da década de 30, que articulavam o discurso de que “as aprendizagens humana e animal tinham a mesma natureza básica”(p. 3).
Lattal (2006) nos argumenta que os autores contemporâneos das relações entre comportamento humano e animal não humano justificam o uso de tais comparações em face dos princípios comportamentais que são comuns entre muitas espécies, como também, é mais fácil de controlar as condições, isto é, as variáveis em pesquisas com animais não humanos, os processos envolvidos são de alguma maneira mais básicos nestes e as variáveis são definidas mais facilmente. Há outras justificativas, tais como: os fatores genéticos podem ser controlados, uma amplitude maior de problemas e variáveis pode ser investigada e uma menor expectativa em relação ao observador sobre o sujeito, em conseqüência da ausência de linguagem verbal nos animais não humanos. Sendo esta última, particularmente, controversa, pois dá fundamento às objeções dos psicólogos que argumentam ser este fator a principal comprovação da impossibilidade de se fazer um paralelo entre os dados.
O autor discute o processo de identificação de características humanas em animais, antropomorfismo, como uma tentativa de relacionar os comportamentos humanos ao dos animais não humanos, processo que segundo Lattal (2006)“Skinner (1957) rotulou de extensão genérica” (p.6). Lattal (2006), alerta-nos sobre os cuidados necessários no uso da extensão genérica, explanando que algumas características são impossíveis de serem atribuídas a um animal não humano em face da complexidade de determinados conceitos psicológicos, por exemplo, ansiedade ou vergonha. Levantando o questionamento sobre se estes conceitos têm viabilidade também para definições de comportamentos humanos.
Há também o uso de metáforas para fazer alusão a determinados modos de ser, ou melhor, para explicar comportamentos, sendo este uso segundo Lattal (2006) combatido por Skinner quando argumenta que a extensão metafórica é um dos elementos que diferenciam a literatura do fazer ciência, sendo o uso de metáforas um possível causador de ambigüidades e significados adicionais na literatura científica.
Em contraste a estes dois processos recém citados, antropomorfismo e metáfora, as relações estabelecidas entre os dados referentes a animais não humanos e humanos, obedecem observações mais sistemáticas e formais, possuindo como objetivo a previsão ou mesmo o controle do comportamento. O autor observa que as relações sistemáticas podem ser estabelecidas por meio de processos de raciocínio tanto extrapolativo quanto análogo, sendo uma questão importante para se pensar, pois pode implicar em um método distinto de comparação entre os comportamentos animal não humano e humano. Questionamento, posteriormente sanado por Lattal (2006) “Assim, modelo, analogia e simulação são usados, mais ou menos, de maneira indiscriminada, não havendo razão para afirmar que um é diferente ou mais preciso do que os outros.”(p. 10).
O artigo ressalta que quando as extensões genéricas são sistemáticas, elas são denominadas de extrapolação, generalização ou extensão, que ao contrário da extensão metafórica, aquela começa, geralmente, com observações de um processo comportamental em animais, sendo posteriormente, estendidas ao comportamento humano. Segundo Lattal (2006):
O processo envolve o estabelecimento de um princípio comportamental, a análise dos componentes de um comportamento humano ocorrendo naturalmente, e finalmente, a utilização do princípio comportamental derivado no laboratório para explicar os componentes. Sendo assim, um princípio comportamental é extrapolado, estendido ou generalizado da análise do comportamento animal para aquela de humanos. (p.10-11).
O autor, posteriormente resgata o processo filogenético da espécie humana em paralelo com os conceitos da biologia evolutiva, que salienta que espécies similares compartilham características, alegando que “Padrões comportamentais que não parecem necessariamente ser os mesmos, mas que são controlados por processos comportamentais idênticos, são considerados homólogos” (P. 11). Sendo estes últimos classificados, segundo o autor, como instâncias de extensão genérica.
Para avaliar as relações propostas entre os estudiosos do comportamento animal não humano e humano, Lattal (2006) expõe quatro dimensões que devem ser consideradas, tais quais: estrutura versus função, a natureza sistemática da comparação, dimensões quantitativas e dimensões qualitativas. A primeira dimensão faz o apelo a qual foco será proposta as similaridades. A segunda, corresponde ao modelo usado para a comparação, ou seja, se a sistemática adotada é sob condições controladas (laboratório) ou observações informais ou casuais. A terceira, descreve-se como o acúmulo de evidências convergentes entre as similaridades entre o comportamento humano e do animal não humano. Enquanto que a quarta, envolve considerações heurísticas e práticas, no lugar de lógicas.
O autor continua a elencar outras considerações quanto à avaliação das relações, como: a questão da aparência, na qual ele faz a ressalva de que o mau uso desta pode aumentar o impacto da comparação, particularmente quando o público que aprecia o trabalho é composto por não cientistas. Na seleção de uma espécie, esta geralmente ocorre por questões de disponibilidade e conveniência, mediante o interesse da pesquisa. Na nomeação do comportamento animal, há o alerta sobre quais rótulos associados ao comportamento animal não humano devem ser usados, em face da questão da visibilidade da pesquisa, apelo. Sabiamente, Lattal (2006) reafirma que “o impacto é particularmente convincente quando o rótulo verbal é apoiado por uma análise experimental cuidadosa e completa.” (p. 16). E quanto às funções de pesquisa com animais o autor reafirma que estas não devem e não podem ser justificadas em termos de relevância imediata e direta para compreender o comportamento humano, fazendo um alerta sobre a impossibilidade destes suplantarem os estudos sobre os seres humanos.
O autor reafirma, ao final do texto, a necessidade de generalizações no fazer ciência. Argumento que ele fundamenta, explica e alerta sobre alguns cuidados que são necessários para que se goze desta metodologia, ratificando que as conclusões obtidas por meio da pesquisa científica são valiosas para a compreensão do comportamento do animal humano, idéia esta que ele explana com muita clareza durante todo o artigo, elencando os prós e os contras, assim como os cuidados necessários ao se fazer ciência. 

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