Mediante à afirmação de Sacchet “Um dos obstáculos centrais à entrada de mulheres na política é o nosso sistema eleitoral” podemos acrescentar fazendo uso reflexivo do livro Psicologia do Gênero. Psicobiografia, Sociocultura e Transformações de uma enormidade de outros fatores que são conseguências e formadores dessa realidade que se constata por meio desta afirmação supra citada. Diante da perspectiva crítica que a autora Maria Helena Fávero nos possibilita com sua obra, torna-se mister enxergarmos esta afirmação mais como uma conseguência ou um retrato expressivo de uma realidade simbólica da sociocultura, do que uma causalidade linear. São vários fatores que contribuem para o não ingresso da mulher na política, não apenas o fator normativo referente às normas estruturantes dos partidos políticos ou do sistema eleitoral como nos elenca Araújo(2005) em seu artigo Partidos Políticos e Gênero: Mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política, mas a um conjunto de valores compartilhados por nossa sociedade em determinado tempo e espaço cultural, sendo chamado de semiosfera por Lotman, segundo nos coloca Fávero(2010). Nossa sociocultura, compartilha de valores que tendem a naturalizar acepções acerca da mulher, sua função e definição a partir da opinião masculina. A mulher como nos coloca Fávero(2010) em nossa cultura está subjugado pelo patriarcado contemporâneo cuja sua reafirmação se dá pelas práticas reacionárias construídas por uma microfísica do poder cuja eficácia se manifesta no controle do feminino, do ser mulher. Assim como, constrói toda reflexão acerca de gênero dividida entre duas polaridades definidas, ou melhor, amparadas num corpo biológico, cabendo aos órgãos sexuais a definição do ser homem ou mulher e uma conseguente atribuição de traços a cada uma dessas categorias.
Reflexo do que está sendo argumentado é a declaração de Araújo, que diz:
“... é provável que o envolvimento das mulheres seja condicionado por sua dinâmica de vida familiar e profissional, o que dificulta sua inserção em espaços já consolidados em suas práticas e ocupados por outros autores... já que elas ver-se-iam limitadas por suas atribuições domésticas e familiares.” (ARAÚJO, Clara. 2005. p.209)
Destarte, é necessário uma reflexão muito mais abrangente e crítica das relações de poder que constituem nossa sociocultura e subjugam a mulher ao lugar de agente passivo de valores naturalizados sobre esta categoria, tais quais; o dom da maternidade, emocionalidade, afetividade, intuição dentre outros. Sendo necessário uma discussão consistente sobre as práticas que fundamentam estas aferições.
Segundo à afirmação de Sacchet “Mas que diferença de fato faria a composição dos ministérios com 30% de mulheres?” pode-se começar argumentando que só ter-se-á dados acerca dessa proposição quando tal realidade for possível. Diante de tal afirmativa podemos apenas elencar algumas constatações de cunho revolucionário no sentido, de que vai de encontro às práticas já manifestadas e reafirmados por nossa cultura. Destarte o argumento da igualdade entre os sexos, ou melhor, entre os sujeitos humanos, é o melhor para começar esta discussão. Sendo nossa sociocultura pluralista no sentido latu senso – etnias, valores, grupos sociais, grupos ideológicos entre outros, faz-se necessário a maior representatividade possível afim de fomentar a discussão acerca dos valores da pessoa humana. Enquanto mantivermos a não inserção do gênero em nossa representação política estaremos fazendo pacto às formas ortodoxas de subjugação e reafirmação de poder constitutiva de nossa cultura ocidental. O movimento feminista é uma realidade que traz à tona a discussão da necessidade dessa participação da mulher enquanto agente ativo de nosso pacto social, cujos valores devem ser rediscutidos afim de que acompanhe as mudanças sociais.
Referência
ARAÚJO, C (2005) Partidos Políticos e gênero: mediações nas rotas de ingresso das mulheres na representação política. Revista de Sociologia e Política, 24, pp. 193-215; e
FÁVERO, Maria Helena (2010) Psicologia do Gênero. Psicobiografia, Sociocultura e Transformações. Curitiba: Editora da Universidade Federal do Paraná, 435p.
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