O filme propõe uma reflexão sobre o sentido da visão e suas implicaturas no modo de ser das pessoas. Trazendo-nos para uma pluralidade de discursos e argumentos ímpares. Tal qual a anedota contada por Saramago, na qual ele nos conta que se Romeu tivesse o sentido da visão como uma águia, jamais teria apaixonado-se por Julieta, em face da acuidade ou clareza da visão da águia tornar incomum a maneira de perceber a pele humana da maneira como nos acostumamos. Destarte sendo esta história um fomento inicial para uma reflexão que não possui fórmula única ou acordo epistemológico, mas sim que caminha para uma pluralidade de visões acerca do mesmo objeto, o olhar humano.
No documentário é muito debatido o argumento de que o olhar é uma porta de entrada a significados que formarão a percepção do mundo segundo atribuição individual de sentido, indo, destarte, de encontro aos argumentos da percepção direta de Gibson, que traz uma maneira de se pensar mais passiva. Como também somos incapazes de ver a realidade tal qual ela é. Sendo inviável pensarmos, segundo o filme, o sensório como uma janela que espelhará uma percepção exata e fidedigna do mundo.
O filme discute também a capacidade de se ver com os outros órgãos além dos olhos, mas com o estômago, boca, ouvido. Fazendo-nos remeter à diversidade e potencial humano de se adaptar e provocar uma reorganização das teorias médicas ortodoxas, assim como, nos insere num terreno cujas outras capacidades são possíveis, por meio da visão interior ou janela da alma interna, exemplarmente, segundo o fotógrafo cego, Bavcar. Que não necessita do sentido da visão para enxergar a expressão da arte.
O filme traz outra discussão que é a do foco simbólico, é o estar e ver-se fora de foco num mundo que a visão precisa ser o sentido de excelência, em face da velocidade de informações que devem ser absorvidas e processadas, ou melhor, percebidas. E em seqüência traz um depoimento interessante da atriz Marieta Severo que diz ficar surda se a lente de contato cai durante uma peça e ela não puder olhar nos olhos do colega com quem está contracenando, nos remetendo à interdependência dos sentidos. Trazendo uma outra discussão acerca dos olhos da mente como todas as funções interligadas, que ao ligar-se com a criatividade, desejos, ansiedade entre outras características, faz-te capaz de olhar o que não tem expressão literal, mas anímica. É aquilo que animado ou passa a ter vida por meio do olhar que afere sentido, por isso sendo impossível nos referirmos a uma passividade da visão.
O filme traz algumas discussões acerca da vergonha, do medo e do mal estar por não compartilhar da mesma capacidade dos outros e ser discriminado de alguma forma por não olhar ou fitar em direção à pessoa com quem está falando. Assim como o olhar de tristeza e comoção dos demais diante do ‘ceguinho’. Sendo o depoimento da cineasta Rimminen o mais marcante quanto ao apelo da diversidade e os sofrimentos implicados. No entanto, o filme é uma afirmação da diversidade humano do olhar, indiferente aos limites reais e fisiológicos, sendo permitido aos cegos ‘verem’ por meio de outros processos que ultrapassam o sentido da visão. Sendo o homem um animal adaptável por excelência um grande ditador dos seus limites e nos fazendo repensar os nossos limites individuais.
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